sexta-feira, 14 de maio de 2010

Nacionalismo??

Outro dia comentei no programa Papo de Craque, da Rádio Transamérica, sobre a tentativa do técnico Dunga de misturar o futebol da seleção brasileira com o nacionalismo exacerbado que todos, pensa ele, devemos ter.


Cabe aqui, aliás, uma pequena identificação do que é nacionalismo e do que é patriotismo, que muitos (inclusive o técnico Dunga) julgam serem sinônimos:

O Patriotismo:

De patriota (que por sua vez vem do latim tardio 'patriota' e do grego 'patriotés', «que é do país») + sufixo -ismo] é o amor que nutrimos pela Pátria e esta é o nosso país, ou região, ou, até, cidade.

Um exemplo de patriotismo é a forma de unidade que acontece quando um determinado país está sob ameaça externa, por exemplo, conflitos militares com outras nações. O efeito deste vínculo faz com que pessoas de diferentes origens coloquem suas diferenças de lado para formar uma frente comum.

O Nacionalismo:

De nacional (+ sufixo -ismo) tem conotações políticas. É uma ideologia que incita os povos à formação de estados soberanos, à reivindicação da sua independência. Preconiza a existência do Estado-Nação.

O Nacionalismo é um vínculo entre indivíduos, que se baseia nos laços familiares, tribais ou de clã. Ele surge entre as pessoas quando o pensamento predominante é o de conseguir a dominação.

O Nacionalismo não une as pessoas, porque ele se baseia na conquista da liderança. Esta conquista cria uma luta poderosa entre as pessoas e leva a conflitos entre as várias camadas da sociedade. Outro inconveniente do Nacionalismo é que ele dá margem ao surgimento do racismo.

Isto acontece quando as pessoas competem entre si, tendo por base o conceito de raça. Alguns brancos, por exemplo, podem se ver superiores aos negros, ou vice-versa, levando a uma polarização de raças, dividindo a sociedade.

Ao longo da História da Humanidade tivemos nacionalismos perigosos que reivindicaram a supremacia da sua nação sobre as outras, como foi o caso do nazismo.

Um exemplo prático da diferença:

Posso dizer observando uma maçã:
Este é um bem nacional (Como produto)
Porém não posso dizer ao observar a mesma maçã:
Este é um bem patriótico (Como produto)

Em caso de guerra, o nacionalista se acovardaria e declinaria do dever de defender a nação enquanto o patriota se alistaria livremente e partiria feliz em defender sua terra e seu povo.

O patriota não necessita ser nacionalista por inteiro e vice-versa.

Dito isto, podemos chegar à conclusão que no Brasil, como em todos os países do mundo, existem os nacionalistas e os patriotas.

Existem, como em todos os lugares, aqueles que querem unir e aqueles que querem dividir.

O técnico Dunga exaltou o nacionalismo, ao tentar opor os que são contra e os que são a favor da seleção.

Aqueles que torcem o nariz para o seu time (o time do Dunga) devem ser julgados e condenados à marginalidade. Não são dignos da nação.

A seleção brasileira, desde o início do século XX, é vista aqui como um símbolo da nação, assim como nossa bandeira ou nosso hino.

É um bem patriótico.

Não vou nem falar aqui do que já foi extensamente comentado: o uso político da seleção durante os anos de ditadura militar no Brasil.

Posso falar do que vi e vivi pessoalmente, que foi o sucesso do plano Real e a consolidação da Social-democracia brasileira de FHC com o sucesso de Parreira, Romário e companhia na Copa do Mundo dos Estados Unidos, em 1994.

Posso falar do uso político do título francês de 1998, para um governo que exibia uma avaliação negativíssima entre os seus cidadãos, e que teve a imagem recriada após o primeiro troféu de sua seleção.

Posso falar de como o nosso atual presidente Lula soube recriar, sobre os erros do passado, uma imagem positiva e esperançosa de seu governo.

Lula tirou todo o negativismo e todo o rancor de sua volta, e, a despeito da derrota de 1994, soube crescer em cima da seleção brasileira campeã do mundo de 2002.

Até hoje o presidente usa e abusa do futebol como meio de dispersar, dissipar, dissimular, como meio de mudar o foco de tudo e de todos sobre fatos negativos ao seu governo.

Futebol no Brasil é mais que pão e circo. Pão e circo é enganação. É um momento de êxtase que nos tira a consciência das coisas ruins ao nosso redor.

O brasileiro deixa de comer para ver o seu time ganhar. O brasileiro perdoa o presidente se o país vencer a Copa do Mundo. Conscientemente!

O brasileiro é patriota, não é nacionalista, seu Dunga.

E para finalizar a respeito do assunto, para não dizerem que não falei de flores, usar o patriotismo, unir o país em torno do esporte é um gesto gigante, um gesto que poucos conseguem fazer.

Em 1995, com a Copa do Mundo de rúgbi, na África do Sul, Nelson Mandela fez.

E está fazendo novamente em 2010, com a Copa do Mundo de futebol.

Mas, embora tente e talvez até se considere, Lula não é Mandela.


Um comentário:

Thay Lima disse...

Belo texto...! Engraçado como somos ignorantes! Não culpo o Dunga pois eu pensava que nacionalismo e patriotismo eram basicamente, a mesma coisa. De fato, devo concordar que "O brasileiro perdoa o presidente se o país vencer a Copa do Mundo". É...de fato isso vai além, muito além do pão e circo! Agora, quando ligamos a tevê, só vemos futebol, futebol e futebol, isso em pleno ano eleitoral...

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